quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Exposição a Inseticidas Organofosforados e Carbamatos


Praguicidas
Os praguicidas ,segundo a Organização para agricultura e alimentação das Nações Unidas (FAO) são produtos químicos ou qualquer substancia ou misturas de substâncias destinadas à prevenção, a destruição e ao controle e qualquer praga.
Organoclorados e Carbamatos

Os compostos organofosforados e carbamatos são largamente utilizados no controle e no combate a pragas, principalmente como inseticidas (agrícola, doméstico e veterinário) e como acaricidas. Atualmente existem no mercado mais de 200 inseticidas organofosforados e 25 carbamatos em milhares. Esses praguicidas tem elevada toxicidade para os seres humanos e o meio ambiente, e no Brasil ocupam a terceira posição dentre os agentes causais de intoxicação aguda, representando 73%.


 
Classificação e propriedades físicas químicas
Os inseticidas organofosforados são ésteres amido ou tiol derivados dos ácidos fosfórico, fosfônico, fosfonótioico e forotióico. São rapidamente hidrolisados tanto no meio ambiente, como nos meios biológicos, e altamente lipossolúveis, com alto coeficiente de partição óleo/agua.
O grupo dos carbanatos é formado por derivados do ácido N metil carbânico e dos ácidos tiocarbamatos e ditiocarbamatos. São utilizados como inseticidas e nematicidas (agrícola e doméstico).Os carbamatos tem baixa pressão de vapor e pouca solubilidade em agua, são moderadamente solúveis em benzeno e tolueno, e altamente solúveis em metanol e acetona.
Toxicodinâmica
Os organofosforados e os carbamatos exercem sua ação principalmente pela inibição enzimática, o que determina a sua toxicidade. Dentre as enzimas, as esterases, especificamente, a acetilcolinesterase, são o principal alvo de sua toxicidade. A inibição da acetilcolinesterase leva ao acumulo da acetilcolina nas terminações nervosas, porque essa enzima realiza a hidrolise da acetilcolina produzindo colina e acido acético.
A acetilcolina é o mediador químico necessário para a transmissão do impulso nervoso em todas as fibras pré ganglionares do sistema nervoso autônomo, em todas as fibras parassimpáticas pós ganglionares e em algumas fibras simpáticas pós ganglionares. Além disso, a acetilcolina é o transmissor neuro humoral do nervo motor do musculo estriado e algumas sinapses interneuronais do sistema nervoso central. A transmissão do impulso nervoso requer que acetilcolina seja liberada no espaço intersináptico ou entre a fibra nervosa e a célula efetora. Depois a acetilcolina se liga a um receptor colinérgico, gerando dessa forma um potencial pós-sináptico e a propagação do impulso nervoso. Em seguida, a acetilcolina é liberada e hidrolisada pela acetilcolinesterase.

 
Ocorrência    
  
A determinação da atividade de colinesterase sanguínea apresenta importância do ponto de vista toxicológico na avaliação da exposição de inseticidas orgonofosforados e nitrogenados (carbamatos).
O s inseticidas organofosforados apresentam duas características importantes: são mais tóxicos para os vertebrados que os demais inseticidas e são quimicamente instáveis, portanto se degradam no ambiente impedindo bioacumulação. Os carbamatos  possuem uma toxicidade mais baixa quando comparados como os inseticidas organofosforados.
A exposição a esses inseticidas pode ocorre principalmente no contexto ocupacional, em trabalhadores que aplicam inseticidas na lavoura sem equipamentos de proteção adequados, ou pela ingestão acidental desses produtos e tentativas de suicídio.
Disposição no organismo
Os praguicidas organofosforados e carbamatos são absorvidos pela pele, pelo trato respiratório, e pelo trato gastrintestinal, e muitas vezes sua absorção e favorecida pelos solventes presentes na formulação.
As principais vias de exposição são a respiratória e a cutânea e absorção oral pode ocorrer por ingestão voluntaria ou por alimentos contaminados. Tanto os organofosforados como os carbamatos sofrem extensa biotransformação.
Finalidade da Análise
Como já citado anteriormente, os inseticidas anticolinesterásicos apresentam como mecanismo de ação tóxica a inibição da aceticolinesterase neuronal, impedindo assim a degradação do neurotransmissor acetilcolina, de forma que os sinais e sintomas da intoxicação de por esses compostos se devem ao acumulo de acetilcolina nas terminações nervosas. Como este tipo de enzima também esta presente no sangue, e é igualmente inibida ,a determinação da  atividade das colinesterases no sangue e de grande importância para o grau de exposição aos inseticidas organofosforados e carbamatos.
Na determinação da atividade da enzimática no sangue, pode ser feita a análise da enzima presente no eritrócito, que é a própria acetilcolinesterase  ou pode ser feita a determinação da enzima plasmática.
Métodos de análise
  • Método Potenciométrico
  • Método Colorimétrico
  • Métodos manométricos
  • Métodos titulométricos
  • Métodos espectrofotométricos
  • Métodos radiométricos
  • Métodos condutimétricos
 
Resumo do artigo: Exposição múltipla a agrotóxicos e efeitos à saúde: estudo transversal em amostra de 102 trabalhadores rurais, Nova Friburgo, RJ.

A extensiva utilização de pesticidas representa um grave problema de saúde pública nos países em desenvolvimento, especialmente aqueles com economias baseadas no agronegócio, caso do Brasil.
No Brasil, a utilização em larga escala deu-se a partir da década de 70, quando os pesticidas foram incluídos, compulsoriamente, junto com adubos e fertilizantes químicos, nos financiamentos agrícolas. Atualmente, o termo "agrotóxico" é o mais recomendado para designar os pesticidas, pois atesta a toxicidade destas substâncias químicas, especialmente quando manipuladas sem adequados equipamentos de proteção.
Algumas classes de pesticidas têm sofrido restrições em relação a seus usos e comercialização tanto nacional quanto internacionalmente. A Convenção de Estocolmo, por exemplo, assinada por cerca de 120 países, estabeleceu o banimento de doze substâncias cloradas, a maioria utilizada como pesticidas. No Brasil, com a entrada em vigor da Lei 7802/89 – Lei dos Agrotóxicos – os produtos contendo substâncias carcinogênicas, teratogênicas ou mutagênicas passaram a ter seus registros proibidos.
Esta situação não é única no Brasil, onde centenas de milhares de trabalhadores estão envolvidos em atividades agrícolas. Entretanto, os riscos e a magnitude dos danos causados pela exposição aguda ou cumulativa a estes pesticidas neste grupo de trabalhadores ainda não são bem conhecidos. Evidências científicas mostram que a exposição aos pesticidas pode levar a danos à saúde, muitas vezes irreversíveis, como o caso da neuropatia tardia por sobreexposição a organofosforados. As conseqüências neurotóxicas da exposição aguda por altas concentrações de pesticidas também estão bem estabelecidas, seja os efeitos muscarínicos, nicotínicos e no sistema nervoso central e periférico. A exposição também está associada a uma larga faixa de sintomas, bem como déficits significativos da performance neurocomportamental e anormalidades na função do sistema nervoso.
Em geral, o tempo de início das atividades na agricultura é bem precoce na maioria das comunidades rurais brasileiras; nesta comunidade, o ingresso era em torno dos 13 anos, porém em alguns casos, mais precoce, entre 7-8 anos, período em que a criança deveria estar na escola. 
Processo de trabalho
Neste estudo, os trabalhadores atuavam no plantio, controle das pragas e na colheita, participando em todas as fases do processo, sem interrupção sazonal. As atividades de mistura, aplicação e transporte dos pesticidas praticamente a todos envolviam, incluindo mulheres e crianças, que durante as fumigações seguravam a mangueira para o aplicador, ficando expostas na mesma intensidade e quase sempre sem qualquer tipo de proteção. Em relação aos agrotóxicos utilizados, foram citadas 58 diferentes formulações, incluindo todas as classes de agrotóxicos (inseticidas, fungicidas, herbicidas, inorgânicos e antibióticos). 

 
Em geral, os agricultores também não se afastavam da exposição, mesmo durante os períodos de provável sobreexposição, p. ex., a piretróides e a metamidofós, na qual ocorriam "os sintomas alérgicos", como se referiam ao intenso prurido; rubor facial e irritação das mucosas nasal, faríngea e dos olhos. Durante a gestação, a maioria das mulheres informou que não se afastava da exposição e que, em menor número, referiam que evitavam nos primeiros meses da gravidez, mas que participavam das mesmas tarefas ao lado dos maridos durante as aplicações e fumigações. 
Os agricultores não faziam qualquer tipo de controle da exposição. A maioria sequer havia feito o exame de colinesterase. 
Quanto à higiene dos indivíduos que entraram em contato com os agrotóxicos, no estudo, foi observado um intervalo de tempo muito grande entre a aplicação do produto e o banho, além disso, a prática da lavagem das mãos entres os produtores foi muito pequena. Reforça-se aí a idéia de que tanto as práticas de higiene quanto as medidas de segurança não eram adequadas. 
Além do contato do agrotóxico com a pele por um tempo o longo, os trabalhadores referiram que não usavam regularmente ou mesmo não utilizavam EPI. O uso destes equipamentos é um imperativo legal quando se trabalha com substâncias químicas; porém, quase a totalidade disse que os EPI nunca eram utilizados. 


 
Exame do Indicador Biológico de Exposição
Foram analisados os níveis de colinesterase plasmática – butirilcolinesterase (ChP) e da acetilcolinesterase eritrocitária (AChE).
As colinesterases são marcadores biológicos da exposição aguda ou sub-crônica a pesticidas organofosforados e carbamatos. Níveis reduzidos de sua atividade refletem alterações geradas por doenças orgânicas ou por ação de agentes agressores externos – xenobióticos – dentre os últimos, os OF têm um papel reconhecidamente importante.
Avaliação clínica
Os estudos sobre prevalência de sintomas de trabalhadores expostos a agrotóxicos geralmente são apoiados em variações de questionários ocupacionais e avaliam uma ampla faixa de sintomas, incluindo, entre outros, a cefaléia, vertigem, fadiga, insônia, náusea, vômitos, ruídos crepitantes respiratórios e dispnéia; assim como sintomatologia sugestiva de distúrbios cognitivos (dificuldade de concentração, esquecimento, confusão mental etc.); motores (fraqueza, tremores, cãibras, miofasciculação), e disfunção neurossensorial (formigamento, parestesia, visão turva e outros distúrbios visuais).
Muitos destes sintomas estão associados a quadros subagudos ou de efeitos crônicos com a exposição a agrotóxicos, além de poderem estar relacionados a jornadas laborais prolongadas e exaustivas, consumo de álcool, anemia, enxaqueca, distúrbios de humor (estados depressivos e ansiosos) e outros fatores que precisam ser considerados na elucidação diagnóstica.
Esta pesquisa vem a confirmar outras investigações epidemiológicas no campo, que mostram uma realidade cruel, onde jovens se iniciam no trabalho agrícola em idade escolar, com exposição, mesmo que indireta, aos pesticidas durante a aplicação, ao segurarem a mangueira ou transportarem os produtos.
Do ponto de vista da organização do processo de trabalho, os dados demonstraram percentual elevado de desconhecimento dos riscos da exposição, bem como a não utilização de equipamentos de proteção individual durante a aplicação pela maioria dos trabalhadores.
Finalmente, é importante destacar que os quadros de intoxicação, na maioria das vezes, não são notificados. A sociedade com um todo precisa mobilizar-se para enfrentar esta grave situação e buscar saídas para reduzir ou eliminar a contaminação dos trabalhadores no campo. Além disso, o consumo de frutas e hortaliças contaminadas com resíduos de pesticidas coloca em risco a saúde dos consumidores. A produção de alimentos saudáveis requer a adoção de políticas que invistam no 'agronegócio limpo', com proteção do meio ambiente, desenvolvimento sustentável e incentivo à agricultura orgânica. A conscientização dos agricultores e consumidores quanto aos elevados riscos para a saúde humana e ambiental da utilização de agrotóxicos é fundamental para mudar este quadro.


Saiba mais em:
  • MOREAU, Regina Lúcia de Moraes; SIQUEIRA, Maria Elisa Pereira Bastos de Toxicologia Analítica . Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. 318 p. (Ciências farmacêuticas)
  • SCHVARTSMAN, Samuel. Intoxicações agudas. 4.ed. São Paulo: Savier, p. 355. 1991
  • ARAÚJO, A. J. et al. Exposição múltipla a agrotóxicos e efeitos à saúde: estudo transversal em amostra de 102 trabalhadores rurais, Nova Friburgo, RJ. Ciênc. saúde coletiva. v.12, n.1,  jan.-mar. 2007.

3 comentários:

  1. Gostei muito do artigo mas a minha questão remete para tipos de tratamento, ou seja, sou técnico agrícola e acompanho a certificação de produtos hortícolas - é obrigatória neste momento uma análise anual à colinesterase (butirilcolinesterase). Obtendo o resultado de 4364 (fora dos parâmetros de 5400 - 13200) como tratar?

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  2. esse artigo pode dar uma ajudinha: segue o link rvq.sbq.org.br/index.php/rvq/article/download/1301/741

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