quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Resumo do artigo Aspectos analíticos da determinação de cotinina em matrizes biológicas

              A análise cromatográfica de substâncias presentes nestes tipos de matrizes (soro, plasma, urina, etc), em geral, requer um pré-tratamento da amostra. As razões para isso são inúmeras, destacando-se a complexidade das matrizes biológicas, das quais os compostos são obtidos, a existência de proteínas que são incompatíveis com as colunas cromatográficas e a concentração das substâncias a serem analisadas, a nível de traço. As técnicas de extração e/ou pré-concentração permitem que a análise dos componentes de interesse se torne possível. A meta final é a obtenção de uma sub-fração da amostra original enriquecida com as substâncias de interesse analítico, de forma que se obtenha uma separação cromatográfica livre de interferentes, com detecção adequada e um tempo razoável de análise.
A nicotina é o maior constituinte das folhas do tabaco do gênero Nicotiana tabacum L., quimicamente, é uma amina terciária composta de anéis piridina e pirrolidina. Apenas de 10 a 20% de toda nicotina inalada é excretada sob a forma inalterada e os principais produtos de biotransformação da nicotina são cotinina, trans-3’-hidroxicotinina, trans-3’-hidroxicotinina glicuronídeo, nicotina-1’-N-óxido, e piridilcarbinol.



Foi encontrada uma correlação positiva entre a quantidade de cotinina presente na urina de crianças e a quantidade de cigarros consumidos por seus pais. A presença de cotinina em fluidos biológicos é atribuída apenas à exposição à nicotina, uma vez que esse produto é formado especificamente na biotransformação do alcalóide, sendo assim considerado um biomarcador específico. Esta pode ser determinada na urina, plasma, saliva e cabelo. A meia-vida da cotinina e nicotina é aproximadamente 19 e 2 horas, respectivamente.
Devido ao seu pKa (em torno de 4,5), a cotinina apresenta-se em maior quantidade sob a forma não ionizada no sangue (pH 7,4) e na forma de base livre é fracamente solúvel em lipídios, apresentando baixa taxa de distribuição para os tecidos, o que parcialmente explicaria sua existência prolongada no sangue, outro fator que contribuiria para a sua meia-vida prolongada é a baixa taxa de excreção renal em relação à nicotina. Consequentemente por causa de sua meia-vida mais longa, a cotinina é frequentemente o marcador de escolha para demonstrar a exposição à fumaça do cigarro.
A cotinina é geralmente determinada na urina, como amostra de escolha, por ser uma amostra biológica de fácil obtenção, baixa viscosidade e fácil manipulação quando comparada com o sangue e a saliva, sendo considerada uma amostra de coleta relativamente não invasiva e sem risco ocupacional a saúde, além das concentrações do analito nesse fluido serem maiores, em relação a outras matrizes, cerca de 80 a 90% da dose de nicotina absorvida pode ser quantificada na urina.
Não há um valor de referência estabelecido para a cotinina em matrizes amostras biológicas, porém foi demonstrado que valores de cotinina urinária acima de 100 ng/mL indicam fumantes ativos. Uma concentração de 22,5 ng/mL de cotinina na urina qualifica uma pessoa como fumante passivo, enquanto, valores de cotinina abaixo de 5 ng/mL indicam não exposição a fumaça ambiental de cigarros.
            Os procedimentos de extração da cotinina geralmente envolvem a ELL ou EFS, sendo que ambas as técnicas usam volumes consideráveis de solvente orgânico (2-15 mL), os quais são evaporados para concentrar os analitos. Por isso, a seleção do solvente é uma das etapas críticas no preparo de amostras contendo a cotinina. Como a cotinina é uma substância instável e os níveis encontrados são da ordem de ng/mL, são procedimentos comuns, para toda a vidraria a ser utilizada na análise, a lavagem e descontaminação prévia com detergentes alcalinos, ácidos e soluções sulfocrômicas e a posterior silanização. No preparo de amostras para a análise de cotinina, para a análise cromatográfica, pode ser adicionado um padrão interno, que minimiza os erros decorrentes do método analítico, constituído das técnicas de preparo de amostras e de detecção/ quantificação do analito.
            Na extração líquido-líquido, a cotinina é extraída de fluidos biológicos após alcalinização do meio com hidróxido de sódio, hidróxido de potássio ou carbonato de sódio e posterior adição de um solvente orgânico. O solvente mais comumente utilizado é o diclorometano, sendo este um solvente apolar, ele consegue extrair substâncias apolares, como a cotinina após sofrer hidrólise.
            A extração em fase sólida, apesar de produzir dependendo do sorvente utilizado, uma recuperação mais baixa do que a ELL, a EFS vem sendo aplicada em virtude da seletividade, resultando em extratos mais limpos. O solvente usado na eluição da cotinina depende do sorvente empregado porém, o diclorometano isolado ou em misturas, com metanol e/ou hidróxido de amônia, é comumente utilizado.  
            A utilização de técnicas cromatográficas é preferencial para a determinação de cotinina em matrizes biológicas uma vez que essas apresentam baixo limite de detecção e alta seletividade, possibilitando a análise simultânea de nicotina, cotinina e trans-hidroxicotinina, entre outros.
            Os métodos analíticos desenvolvidos para a determinação de cotinina devem apresentar baixo custo e simplicidade analítica, além da detectabilidade e seletividade satisfatórias, uma vez que esse biomarcador é ferramenta que contribui para estimar a exposição à nicotina, ativa ou passivamente.

Bibliografia

MALAFATTI, L.; MARTINS, I. Aspectos analíticos da determinação de cotinina em matrizes biológicas. Revista Brasileira de Toxicologia v. 22, n.1-2, p. 9-20, 2009. Disponível em: http://iah.iec.pa.gov.br/iah/fulltext/lilacs/ revbrastoxicol /200 9 v 22n1-2/revbrastoxico2009v22n1-2p9-20.pdf. Acesso em: 16 de agosto, 2011.


quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Extração Líquido-Líquido e Extração em Fase Sólida

EXTRAÇÃO LÍQUIDO-LÍQUIDO (ELL)

            Na extração líquido-líquido ocorre a partição da amostra entre duas fases imiscíveis (orgânica e aquosa). Pode-se iniciar o fracionamento de uma amostra através da partição por solventes orgânicos de polaridade crescente ou através da partição ácido-base.
            A extração líquido-líquido é uma técnica em que uma solução aquosa ou hidroalcoólica é colocada em contato com um segundo solvente orgânico imiscível com o primeiro solvente, a fim de colocar a transferência de um ou de mais de um soluto para o segundo solvente. A eficiência da extração depende da afinidade do soluto pelo solvente de extração, da razão das fases e do número de extrações.
            A ELL apresenta as vantagens de ser simples (na configuração mais comum usa-se um funil de separação) e poder utilizar um grande número de solventes, puros e disponíveis comercialmente, os quais fornecem uma ampla faixa de solubilidade e seletividade. Além disso, as proteínas presentes nas amostras são denaturadas, eliminando a contaminação da coluna cromatográfica. Por outro lado, esta técnica possui uma série de desvantagens, tais como: as amostras com alta afinidade pela água são parcialmente extraídas pelo solvente orgânico, resultando em perda do analito; impurezas do solvente são concentradas junto com a amostra, implicando no uso de solventes ultrapuros; pode ocorrer a formação de emulsões, o que resulta em grande consumo de tempo; volumes relativamente grandes de amostras e de solventes são requeridos, gerando problemas de descartes; alguns solventes orgânicos são tóxicos; decomposição de compostos instáveis termicamente, na etapa de pré-concentração; o processo é suscetível a erros e, relativamente, de difícil automação.
            Apesar destas desvantagens, a ELL é considerada uma técnica clássica de preparação de amostra e tem sido ainda muito utilizada em análises de diversos tipos de substâncias presentes em fluidos biológicos, pois extratos bastante limpos podem ser obtidos com alta seletividade para alguns analitos.

Aplicações de ELL em fluidos biológicos

            A escolha adequada do solvente orgânico e o ajuste de pH da amostra são necessários para assegurar uma boa recuperação do analito. A extração de substâncias básicas é, normalmente, realizada a pH maiores que 7 e a extração de substâncias ácidas é feita em pH menores que 5. Vários tipos de solventes orgânicos têm sido empregados na extração de drogas ácidas e básicas presentes em amostras de fluidos biológicos, quanto maior a afinidade do analito pelo solvente orgânico maior a recuperação.
            A ELL foi empregada para a determinação de 25 pesticidas organofosforados, em soro humano, por meio de extração com n-hexano/acetato de etila (75:25, v/v) seguida por cromatografia em camada delgada de alta eficiência.
            Outro emprego da ELL foi a análise de estriquinina, que é um alcalóide altamente tóxico para os seres humanos, através da utilização de uma mistura de tolueno/n-heptano/álcool isoamílico (67:20:4, v/v/v) foi feita a extração da substância tóxica de amostras biológicas, para fins de investigações clínicas e forense, com determinação por cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massas.

EXTRAÇÃO EM FASE SÓLIDA (EFS)

            Hoje em dia a extração em fase sólida é uma das ferramentas mais poderosas e mais empregadas para a extração e/ou pré-concentração de analitos presentes em matrizes (soro, plasma, urina).
            Na extração por fase sólida, o analista tem que primeiramente selecionar o tipo de sorvente que vai ser utilizado na análise em questão, de acordo com as características físico-quimicas dos analitos de interesse.
            Os princípios relacionados relacionados com as técnicas de EFS e ELL são semelhantes entre si e envolvem a partição dos compostos de interesse entre duas fases. Na EFS o analito de interesse, para ser extraído, e dividido entre a fase líquida, a qual está contida na fase sólida (sorvente) e o solvente de eluição, como se fosse entre dois líquidos imiscíveis, similar ao que ocorre na ELL. O analito de interesse terá menor ou maior afinidade pela fase líquida do sorvente, determinando assim o grau de retenção deste analito. Posteriormente este analito é extraído por um solvente orgânico no qual ele tenha maior afinidade que na fase líquida do sorvente.
            Os mecanismos de retenção e eluição dos analitos pela fase sólida ocorrem através de forças intermoleculares entre o analito e a superfície da fase sólida.
            Em geral, os procedimentos de EFS contêm 5 etapas: i) ativação do sorvente através da passagem de um solvente que condicione a superfície do sólido, para deixar os sítios ativos disponíveis; ii)remoção do solvente responsável pela ativação; iii) introdução da amostra, quando ocorre a retenção do analito e às vezes de alguns interferentes; iv) limpeza da coluna para retirar os interferentes menos retidos que o analito; v) eluição do analito de interesse do sorvente com um solvente apropriado.
            Dependendo do solvente de condicionamento e de eluição, os grupos mais frequentemente usados como sorventes à base de sílica quimicamente ligada podem ser divididos em 3 categorias: i) fase reversa (FR) quando o sorvente é menos polar que o solvente de eluição; ii) fase normal (FN) quando o solvente é menos polar que o sorvente e iii) troca iônica (TI).


Bibliografia

QUEIROZ, S. C. N.; COLLINS, C. H. ; JARDIM, I. C. S. F. Métodos de extração e/ou concentração de compostos encontrados em fluidos biológicos para posterior determinação cromatográfica. Quím. Nova. v. 24, n.1, p. 68-76, 2001. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/qn/v24n1/4452.pdf. Acesso em: 17 de agosto de 2011.

FARIA L. J. S. Avaliação de diferentes sorventes na extração em fase sólida de pesticidas em água. Desenvolvimento e validação de metodologia. 2004. 79p. (Dissertação de Mestrado) - Universidade Estadual de Campinas. São Paulo. 2004. Disponível em: http://biq.iqm.unicamp.br/arquivos/ teses/vtls000 349 402.pdf. Acesso em: 17 de agosto de 2011.




terça-feira, 16 de agosto de 2011

Análise toxicológica do Ecstasy

Resumo do Artigo: 
Desenvolvimento e validação de um método cromatográfico em fase gasosa para análise da 3,4-metilenodioximetanfetamina (ecstasy) e outros derivados anfetamínicos em comprimidos
O uso abusivo de anfetaminas e seus derivados, que representam a maior classe de estimulantes do sistema nervoso central, vem aumentando drasticamente nos últimos anos em diversas regiões do mundo, especialmente em relação à utilização do ecstasy. Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), existem, atualmente, 8,3 milhões de usuários de ecstasy no mundo, um aumento de 84,4% em relação aos números divulgados em 2000, que registravam 4,5 milhões de usuários na década passada. A ONU estimou, ainda, que cerca de 1,4 milhões de comprimidos de ecstasy são produzidos anualmente no mundo (média de 168 comprimidos por usuário) sendo os Estados Unidos e a Europa os maiores produtores e consumidores da droga no mundo.
O ecstasy é uma droga geralmente utilizada de forma grupal, sendo que seus consumidores são basicamente jovens de classe média-alta e alta.
As análises de amostras de ecstasy apreendidas nas ruas evidência a presença de MDMA (3,4-metilenodioximetanfetamina) e outras feniletilaminas, como MDA (3,4- metilenodioxanfetamina), MDEA (3,4-metilenodioximetiletilanfetamina ou eve), MBDB (N-metilbenzodioxazolilbutamina) e 2C-B (4-bromo-2,5-dimetoxifenilamina), consideradas entactógenos, produzindo sensações de euforia, ânimo e aumento da comunicação, justificando sua crescente popularidade como drogas de raves.
O objetivo do estudo foi desenvolver e validar um método analítico confiável, prático e acessível aos laboratórios de toxicologia, para identificação separada do MDMA, MDA e MDEA. A cromatografia em fase gasosa utilizando-se coluna capilar e detector de ionização de chama foi a técnica escolhida.
Para analisar os comprimidos, os mesmos foram triturados e pulverizados e, em seguida, em cada alíquota de 10 mg de comprimidos foi transferida para um béquer, onde foi adicionado de 10 mL de metanol.
A especificidade foi considerada como a capacidade do método analítico em detectar o(s)  analito(s) de interesse na presença de outros componentes da matriz. A anfetamina apresentou um pico distinto de outras substâncias também estudadas o tempo de retenção (Rf) encontrado foi 4,3.
Soluções padrões de MDMA, MDA e MDEA, em quintuplicata, nas concentrações de 1,0; 2,0; 5,0; 10,0; 50,0; 100,0; 250,0 e 500,0 μg/mL, adicionadas de 50,0 μg/mL de MBDB (padrão interno), foram injetadas no cromatógrafo a gás sob as condições analíticas estabelecidas no trabalho. A resposta do detector apresentou-se linear na faixa de concentração compreendida entre 1,0 a 500,0 μg/mL. Os coeficientes de determinação (R2) encontrados foram
R2 = 0,99844±0,00093 para o MDMA; R2 = 0,00748±0,00184 para o MDA e
R2 = 0,99764±0,00325 para o MDEA.
Neste trabalho foi estabelecido como LD, a menor concentração dos analitos, que apresentou um coeficiente de variação próximo, mas não superior, a 20%. Nas condições estabelecidas, esses limites foram 0,7 μg/mL para o MDMA, 0,8 μg/mL para o MDA e 0,6 μg/mL para o MDEA.
Nesse trabalho foi considerado “precisão estabelecida”, um coeficiente de variação igual a 10% o que resultou, para os três analitos de interesse, em um LQ igual a 1,0 μg/mL.
O CV intra-ensaio foi determinado por meio da análise, em um mesmo dia, de soluções padrões de MDMA, MDA e MDEA, em quintuplicata, nas concentrações de 1,0; 10,0 e 100 μg/mL, adicionadas de 50μg/mL de MBDB (padrão interno).
O CV interensaio foi determinado por meio da determinação da precisão intermediária uma vez que apenas uma condição analítica, o dia da análise, foi modificada no presente estudo. Para a determinação dessa precisão interensaio, soluções padrões de MDMA, MDA e MDEA, em quintuplicata, nas concentrações de 1,0; 10,0 e 100,0 μg/mL, adicionadas de 50 μg/mL de MBDB (padrão interno) foram analisadas por cinco dias seguidos.
Nesse estudo, foram testadas pequenas variações nas condições cromatográficas, como alterações na vazão da fase móvel (de 2,0 mL/min para 1,8 e 2,2 mL/min) e na programação da temperatura da coluna cromatográfica tanto nas rampas de incremento de temperatura quanto no
tempo de duração das etapas isotérmicas. Essas alterações não causaram diferenças significativas nos parâmetros de identificação e quantificação dos analitos de interesse, revelando a robustez do método utilizado.
A estabilidade química dos compostos MDMA, MDA e MDEA foi determinada utilizando-se soluções metanólicas dos analitos, na concentração de 2,0 μg/mL, acondicionadas em frascos de vidro âmbar e mantidas sob congelamento a -20 °C. No mesmo dia de preparo das soluções, alíquotas foram analisadas , sendo o resultado obtido do tempo zero do experimento. Os resultados obtidos nas análises subseqüentes, realizadas após descongelamento em diferentes dias, foram comparados com aquele encontrado no tempo zero, aceitando-se uma variação máxima de 20%. Nessas condições as substâncias mostraram-se estáveis por, no mínimo, por 27 dias.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Validação de Métodos Analíticos

  É fundamental que os laboratórios demonstrem, através da
VALIDAÇÃO, que os métodos de ensaio que executam conduzem a resultados confiáveis e adequados à qualidade pretendida.
                                  
 Validação = Confiabilidade analítica




                   
      O objetivo de uma validação é demonstrar que o método é apropriado para a finalidade pretendida, ou seja, a determinação qualitativa, semi-quantitativa e/ou quantitativa de fármacos e outras substâncias em produtos farmacêuticos.
        - Essas informações aplicam-se a:
  •  Técnicas analíticas que façam uso de métodos de cromatografia gasosa (CG) ou cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE);
  •  Métodos não-cromatográficos, desde que estes ofereçam uma seletividade aceitável (por ex. titulometria, espectrofotometria UV-VIS);
  • Testes imunológicos ou microbiológicos, desde que observado o grau de variabilidade usualmente associado a estas técnicas;
  • Para a garantia da qualidade analítica dos resultados, todos os equipamentos utilizados na validação devem estar devidamente calibrados e os analistas devem ser qualificados e adequadamente treinados;
  •  Deve-se utilizar substâncias de referência oficializadas pela Farmacopéia Brasileira ou, na ausência destas, por outros códigos autorizados pela legislação vigente;
  • A validação deve garantir, por meio de estudos experimentais, que o método atenda às exigências das aplicações analíticas, assegurando a confiabilidade dos resultados. Para tanto, deve apresentar:

  •      Especificidade e Seletividade


- É a capacidade que o método possui de medir exatamente um composto em presença de outros componentes tais como impurezas, produtos de degradação e componentes da matriz.

- Para análise qualitativa (teste de identificação) é necessário demonstrar a capacidade de seleção do método entre compostos com estruturas relacionadas que podem estar presentes.

- Para análise quantitativa (teor) e análise de impurezas, a especificidade pode ser determinada pela comparação dos resultados obtidos de amostras (fármaco ou medicamento) contaminadas com quantidades apropriadas de impurezas ou excipientes e amostras não contaminadas, para demonstrar que o resultado do teste não é afetado por esses materiais.

  •       Linearidade

- É a capacidade de uma metodologia analítica de demonstrar que os resultados obtidos são diretamente proporcionais à concentração do analito na amostra, dentro de um intervalo especificado.

- Recomenda-se que a linearidade seja determinada pela análise de, no mínimo, 5 concentrações diferentes.

- Se houver relação linear aparente após exame visual do gráfico, os resultados dos testes deverão ser tratados por métodos estatísticos apropriados para determinação do coeficiente de correlação, intersecção com o eixo Y, coeficiente angular, soma residual dos quadrados mínimos da regressão linear e desvio padrão relativo. Se não houver relação linear, realizar transformação matemática.

- O critério mínimo aceitável do coeficiente de correlação (r) que deve ser em cerca de 0,99.
-Deve-se apresentar as curvas obtidas (experimental e a resultante do tratamento matemático).

  •       Precisão

- È a avaliação da proximidade dos resultados obtidos em uma série de medidas de uma amostragem múltipla de uma mesma amostra. Esta é considerada em três níveis:

  - Repetibilidade: concordância entre os resultados dentro de um curto período de tempo com o mesmo analista e mesma instrumentação.
  - Reprodutibilidade: concordância entre os resultados obtidos em laboratórios diferentes como em estudos colaborativos, geralmente aplicados à padronização de metodologia analítica.
  - Precisão intermediária: concordância entre os resultados do mesmo laboratório, mas obtidos em dias diferentes, com analistas diferentes e/ou equipamentos diferentes.
- A precisão pode ser expressa como desvio padrão relativo (DPR) ou coeficiente de variação (CV%), segundo a fórmula:


O valor máximo aceitável deve ser definido de acordo com a metodologia empregada, a concentração do analito na amostra, o tipo de matriz e a finalidade do método, não se admitindo valores superiores a 5%.

  •            LD
-Limite de detecção é a menor quantidade do analito presente em uma amostra que pode ser detectado, porém não necessariamente quantificado, sob as condições experimentais estabelecidas.

-No caso de métodos não instrumentais (CCD, titulação, comparação de cor), esta determinação pode ser feita visualmente, onde o limite de detecção é o menor valor de concentração capaz de produzir o efeito esperado (mudança de cor, turvação, etc).
- No caso de métodos instrumentais (CLAE, CG, absorção atômica), a estimativa do limite de detecção pode ser feita com base na relação de 3 vezes o ruído da linha de base. Pode ser determinado pela equação:


-Em que: DPa é o desvio padrão do intercepto com o eixo do Y de, no mínimo, 3 curvas de calibração construídas contendo concentrações do fármaco próximas ao suposto limite de quantificação. Este desvio padrão pode ainda ser obtido a partir da curva de calibração proveniente da análise de um número apropriado de amostras do branco; IC é a inclinação da curva de calibração.

  •            LQ 

-É a menor quantidade do analito em uma amostra que pode ser determinada com precisão e exatidão aceitáveis sob as condições experimentais estabelecidas.

-O limite de quantificação é estabelecido por meio da análise de soluções contendo concentrações decrescentes do fármaco até o menor nível determinável com precisão e exatidão aceitáveis. Pode ser expresso pela equação:


Em que:
 DPa é o desvio padrão
IC é a inclinação da curva de calibração

.-Também pode ser determinado por meio do ruído. Neste caso, determina-se o ruído da linha de base e considera-se como limite de quantificação aquela concentração que produza relação sinal-ruído superior a 10:1.

  •       Intervalo

-O intervalo especificado é a faixa entre os limites de quantificação superior e inferior de um método analítico. Normalmente é derivado do estudo de linearidade e depende da aplicação pretendida do método.


  •      Exatidão

-A exatidão de um método analítico é a proximidade dos resultados obtidos pelo método em estudo em relação ao valor verdadeiro.

-A exatidão é calculada como porcentagem de recuperação da quantidade conhecida do analito adicionado à amostra, ou como a diferença porcentual entre as médias e o valor verdadeiro aceito, acrescida dos intervalos de confiança.

-A exatidão do método deve ser determinada após o estabelecimento da linearidade, do intervalo linear e da especificidade do mesmo, sendo verificada a partir de, no mínimo, 9 (nove) determinações contemplando o intervalo linear do procedimento, ou seja, 3 (três) concentrações, baixa, média e alta, com 3 (três) réplicas cada. A exatidão é expressa pela relação entre a concentração média determinada experimentalmente e a concentração teórica correspondente:


  •            Robustez
A robustez de um método analítico é a medida de sua capacidade em resistir a pequenas e deliberadas variações dos parâmetros analíticos. Indica sua confiança durante o uso normal.

 Tabela 1 - Fatores que devem ser considerados na determinação da robustez do método analítico:

Preparo das Amostras
·Estabilidade das soluções analíticas
·Tempo de extração
Espectrofotometria
·Variação do pH da solução
·Temperatura
·Diferentes fabricantes de solventes
Cromatografia Líquida
·Variação do pH da fase móvel
·Variação na composição da fase móvel
·Diferentes lotes ou fabricantes de colunas
·Temperatura
·Fluxo da fase móvel
Cromatografia Gasosa
·Diferentes lotes ou fabricantes de colunas
·Temperatura
·Velocidade do gás de arraste




Bibiografia


  • SIQUEIRA-MOURA, Marigilson Pontes de; LIRA, Mariane Cajubá Britto and  SANTOS-MAGALHAES, Nereide Stela. Validação de método analítico espectrofotométrico UV para determinação de ácido úsnico em lipossomas. Rev. Bras. Cienc. Farm. [online]. 2008, vol.44, n.4, pp. 621-628. ISSN 1516-9332. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/rbcf/v44n4/v44n4a08.pdf 

 
  • Lasmar, Marcelo Carvalho e Leite, Edna Maria Alvarez. Desenvolvimento e Validação de hum Método cromatográfico fase gasosa los parágrafo Análise da 3,4-metilenodioximetanfetamina (ecstasy) e Outros Derivados anfetamínicos los ComprimidosRev. Bras. Cienc. Farm. [online]. 2007 vol.43, n.2, p. 223-230. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/rbcf/v43n2/07.pdf


  • BRASIL, Resolução (RE) nº 899, de 29 de maio de 2003. Determina a publicação do "Guia para validação de métodos analíticos e bioanalíticos". DiárioOficial [da] Republica Federativa do Brasil, Brasília, DF, 02 de junho de 2003. Disponível em http://www.anvisa.gov.br/legis/resol/2003/re/899_03re.htm


quinta-feira, 4 de agosto de 2011

O que é a Toxicologia Analítica?


A toxicologia Analítica assumiu, nos últimos anos, uma conotação de ciência Forense, mas é importante lembrar que seu uso abrange outras áreas como a toxicologia ocupacional, verificando os níveis de segurança para o trabalhador quando expostos a resíduos, produtos de sua atividade laboral, como intoxicações por pesticidas em trabalhadores da zona rural; intoxicação por chumbo em pintores; por arsênio em soldadores ou pneumoconioses por sílica ou amianto em trabalhadores da construção civil.
A toxicologia vem se desenvolvendo e aprimorando com o objetivo de garantir e promover a segurança da humanidade e dos demais seres vivos no planeta. Com a nova luta para proteger a Terra a atividade de toxicologia ganhou força e passou a ser cada vez mais solicitada pelos órgãos vigilantes.
OBJETO DE ESTUDO
Na toxicologia analítica, nosso objeto de estudo será a interação de agentes toxicantes com os seres vivos, sendo fundamental o conhecimento da toxicologia clínica para que possamos iniciar nossas análises.
Esta interação nos fornecerá subsídios e direcionamento para decidirmos o melhor teste e o melhor local para coletarmos nossas amostras, caso contrário as avaliações toxicológicas se tornariam muito caras.
FASES DA INTOXICAÇÃO
Dependo da fase em que iremos avaliar o processo de intoxicação, é importante atentarmos para elementos que descrevem o momento e o que iremos estudar em cada momento.
No primeiro momento ocorre a EXPOSIÇÃO, neste momento é importante analisarmos a via de administração e as características químicas da(s) substância(s) que o paciente/vítima entrou em contato, desta forma obteremos informações como: lipossolubilidade, propriedades ácidas ou alcalinas, além de outras que nos servirão de subsídios iniciais para avaliação. Neste momento analisaremos O TOXICANTE.
No segundo momento deteremos nosso foco na TOXICIDADE do agente, dentre os fatores que implicam neste momento encontramos o caminho que o toxicante percorre no corpo (TOXICOCINÉTICA), quando avaliamos sua absorção, distribuição, metabolismo e excreção; no segundo momento nos deteremos nas interações com os receptores (TOXICODINÂMICA) resultando em informações sobre a natureza da ação do agente tóxico.
No final deste processo teremos informações importantes e, quando voltamos à toxicodinâmica, teremos novas informações sobre os efeitos gerados pela interação do toxicante com receptores resultando em EFEITOS que nos servirão de subsídios para direcionarmos nossos métodos de análise.
TOXICIDADE X RISCO
A capacidade que uma determinada substância tem de causar intoxicação é entendida como toxicidade, no entanto o risco vai além, é preciso que exista a possibilidade de exposição somada a capacidade de a substância causar intoxicação (toxicidade), sendo assim, é possível uma substância ter alta toxicidade, no entanto ter baixo risco e vice-versa.
CONDIÇÃO PARA EXPOSIÇÃO
As condições para o risco de exposição são somadas a diversos fatores: DOSES mais elevadas, administrações FREQUENTES, menores INTERVALOS aumentam a probabilidade de intoxicação. Algumas VIAS DE ADMINISTRAÇÃO como às parenterais ou a oral têm maior risco de intoxicação, já a tópica tem menor risco, no entanto ainda pode ocorrer, substâncias como os corticóides apresentam grande capacidade de absorção.
Algumas propriedades físico-químicas como o pH têm papel importante na toxicidade dos agentes, uma vez que este é um dos fatores que interferem diretamente na capacidade de absorção ou de excreção dos agentes. Substâncias ácidas têm maior capacidade de reabsorção tubular (rins).
A principal dificuldade na análise toxicológica está na quantidade de material a ser coletado, este normalmente apresenta-se em quantidades muito pequenas, além da quantidade de amostra ser pequena a concentração de toxicante nesta é ainda menor, por este motivo faz-se necessário o uso de diversas técnicas modernas para identificação.
Dentre as técnicas mais usadas podemos citar a Cromatografia em Camada Delgada (CCD) que corresponde a uma técnica barata, simples e muito eficiente para identificação de componentes. Outra técnica é a espectrofotometria, também muito eficaz na identificação.
ERROS
No entanto diversos fatores podem interferir nos resultados dos testes, dentre eles podemos mencionar os erros metodológicos como deterioração ou contaminação da amostra, erros sistemáticos ou aleatórios na execução do procedimento.
SUBSTRATOS PARA IDENTIFICAÇÃO
Os agentes tóxicos podem ser identificados de diversas fontes como fluidos, ar, alimentos, água, solo… Para garantir a identificação os métodos devem ser sensíveis e seletivos.
Testes com alta seletividade são aqueles que reagem facilmente na presença do toxicante, devido sua alta sensibilidade ele pode identificar equivocadamente alguns outros agentes, o que chamamos de reação cruzada. A seletividade é realizada após os testes sensíveis identificando, especificamente, a substância identificada pelo teste mais sensível.
TOXICOLOGIA ANALÍTICA
O objetivo principal de toxicologia analítica é a identificação e quantificação de agentes tóxicos em material biológico ou não.
Para a realização dos inúmeros testes é preciso pesquisar em diversos substratos: fluidos orgânicos; alimentos; ar; água; solo… Desta forma poderá prevenir ou diagnosticar intoxicações.
 SELETIVIDADE x SENSIBILIDADE
De uma forma simples a sensibilidade é a capacidade que um teste tem de identificar uma determinada substância. Quer dizer, o teste é sensível se ele identifica uma substância, mesmo esta se apresentando em pequenas quantidades, o problema é que se o teste é muito sensível ele pode identificar um contaminante ou um interferente analítico também gerando um resultado FALSO POSITIVO.
Para evitar este problema, após a realização de um teste sensível que apresentou o resultado positivo, vale a pena confirmar com a realização de um teste mais seletivo, o qual tem a capacidade de reação cruzada mais limitada, senso assim ele é mais específico.
 ANTES DO TRABALHO ANALÍTICO
É importante e indispensável planejar a execução do trabalho. Como forma de facilitar este momento pode-se proceder realizando as seguintes perguntas:
  1. Para que? – Esta pergunta orienta o planejamento analítico e nos levará a FINALIDADE do teste:
    1. Pesquisa
    2. Confirmação
    3. Identificação
    4. Controle
  2. O que? – Aqui nos concentraremos no TOXICANTE:
    1. É um produto orgânico ou inorgânico
    2. É de origem animal, vegetal ou mineral? Etc.
  3. Onde? Aqui é importante pensar na AMOSTRA que será analisada.
    1. É metabolizado de que forma?
    2. Onde se deposita? Etc.
    3. Como é sua eliminação?
    4. Que efeitos ele pode causa? Etc.
  4. Como? Neste momento será decidido, baseado nas informações levantadas anteriormente, como e qual será o teste analítico a ser realizado.
    1. Cromatografia
    2. Espectrometria
    3. Imunoensaio…


    REFERÊNCIAS
    MORAES, E. C. F. Manual de toxicologia analítica. Roca, São Paulo/SP, 1991.
    MATEUS, F. H. Avaliação e interpretação de resultados laboratoriais em toxicologia ocupacional. Seminário apresentado na X Jornada de farmácia e análises clínicas.