quarta-feira, 21 de setembro de 2011

DOPING SANGUÍNEO: Driblando a capacidade de oxigenação sanguínea


Segundo a definição do Comitê Olímpico Internacional (COI), entende-se por doping sanguíneo a

“técnica que consiste na administração de sangue, ou de produtos sanguíneos que contenham hemácias, a um desportista, por razões outras que não um tratamento médico justificado”

Esta infusão endovenosa de sangue em um indivíduo induz eritrocitemia e o aumento subsequente da capacidade de transporte de oxigênio do sangue. O primeiro relato científico de doping sanguíneo é de 19471 e em 1966 foram iniciados estudos para avaliar se aumentaria a capacidade aeróbica. Nos Jogos Olímpicos de 1976 em Montreal, começaram a circular relatos que sugeriam que alguns atletas utilizavam o doping sanguíneo como auxílio ergogênico e nos Jogos de 1984 vários ciclistas americanos admitiram ter utilizado esse recurso.


Qual a fisiologia desse procedimento??

A finalidade é a de aumentar a potência aeróbica máxima e o rendimento submáximo durante o exercício, por aumentar a capacidade de transporte de oxigênio até a célula muscular, pois existe uma relação direta entre a quantidade total de hemoglobina e o consumo máximo de oxigênio.
Para cada concentrado de hemácias (275ml) é possível aumentar em 100ml a capacidade sanguínea de transporte de oxigênio, sendo o potencial extra de oxigênio de meio litro por minuto.

275mL de concentrado = 100mL capacidade de transporte de O2

Imediatamente após o doping sanguíneo são produzidos ajustes fisiológicos compensatórios que preservam o efeito aeróbico. Há um fluxo de plasma do espaço intravascular para o espaço extravascular, restaurando o volume sanguíneo ao normal sem modificar o trabalho cardíaco e com um aumento da liberação total de oxigênio secundário ao aumento da concentração de hemoglobina. Além disso, acha-se que esta técnica melhora o desempenho ao atuar na termorregulação, compensando o efeito inibitório do ácido lático.
O procedimento utilizado no doping sanguíneo autólogo é o seguinte:
Entre 8 e 12 semanas antes da competição são extraídas duas unidades de sangue do atleta, são separadas as hemácias do plasma, congelando-se-as (a –80ºC), o que permite a sua conservação por um período ilimitado de tempo com perda mínima de hemácias.
Alternativamente, as hemácias podem ser refrigeradas, mas assim o tempo máximo de armazenamento é de três semanas e nesse período não se restauram os níveis prévios de hemoglobina, razão pela qual esta última técnica foi abandonada.
Para a reinfusão, as hemácias congeladas são reconstituídas com solução salina e são transfundidas em uma a duas horas. A reinfusão deve ser realizada entre um e sete dias antes da competição.



E quais são os riscos para o atleta?

A administração de sangue a um atleta aumenta a viscosidade sanguínea, podendo reduzir o trabalho cardíaco, a velocidade do fluxo sanguíneo e a concentração de oxigênio periférico, com uma menor capacidade aeróbica. Além disso, existe um maior risco de trombose venosa profunda e tromboembolismo pulmonar. Embora ainda não tenha sido determinado o hematócrito máximo que possa ser considerado seguro, a maioria dos autores concorda que valores superiores a 50% podem aumentar a possibilidade desses efeitos adversos.
As transfusões homólogas são raramente utilizadas atualmente pelo grande risco de sensibilização com repetidas transfusões. Por volta de 3% destas podem se complicar com processos imunes como febre, urticária e mais raramente reações hemolíticas graves e choque anafilático. Também podem ocorrer (em um por cento dos casos) infecções virais, como a hepatite, a infecção por citomegalovírus ou a AIDS.
As transfusões autólogas são mais seguras se são realizadas por pessoal treinado com as medidas de assepsia adequadas, devendo ser evitadas desde infecções bacterianas ou flebite até reações fatais por identificação equivocada do sangue.


Mais informações:


Artigo bem bacana sobre a dopagem sanguínea, abordando inclusive outros exemplos. Em breve vamos publicar mais informações extraídas desse artigo de revisão.
LAUDO PARDOS, Consuelo; PUIGDEVALL GALLEGO, Victor; RIO MAYOR, María Jesús de  and  VELASCO MARTIN, Alfonso. Archivos de Medicina del Deporte Doping sanguíneo e eritropoetina. Rev Bras Med Esporte [online]. 1999, vol.5, n.1, pp. 27-30.
Também, para saber mais sobre dopagem, você pode consultar o site do COI - Comitê Olímpico Internacional (em inglês IOC) ou do COB - Comitê Olímpico Brasileiro.
www.olympic.org e www.cob.org.br
Nas próximas postagens, vamos mostrar outros exemplos de doping sanguíneo, além se outras formas de dopagem.

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