ATS - Análise Toxicológica Sistemática
A
identificação de substâncias de interesse toxicológico em amostras
biológicas representa um desafio significativo, considerando a grande e
crescente quantidade de substâncias potencialmente presentes, bem como a
complexidade das matrizes e, frequentemente, a disponibilidade de
quantidades limitadas de amostra. Esse problema torna-se especialmente
complexo quando se tem pouca ou nenhuma informação sobre o histórico do
paciente ou da amostra, situação comum na toxicologia clínica e forense.
Desta forma, este tipo de análise requer uma abordagem concisa e
planejada, denominada Análise Toxicológica Sistemática (ATS).
A
ATS pode ser definida como a busca químico-analítica em diferentes
matrizes (sangue, plasma, tecidos) por substâncias potencialmente
tóxicas, cuja presença é incerta e sua identidade é desconhecida. O
objetivo final da ATS é a exclusão de todas as substâncias
potencialmente contidas na amostra, com exceção das efetivamente
presentes. Ou seja, a identificação positiva ocorre quando os dados
analíticos são compatíveis com uma determinada substância e
incompatíveis com todas as demais substâncias possivelmente presentes na
amostra, tais como metabólitos, compostos endógenos e demais
interferentes.
A
ATS possui três fases, a saber: preparação da amostra, isolamento e
concentração dos analitos; detecção e diferenciação e, por fim,
identificação.
A
identificação de substâncias em ATS é realizada através da comparação
do seu comportamento em um determinado sistema analítico, estritamente
padronizado, com dados presentes em bases de dados cuja
reprodutibilidade interlaboratorial é conhecida. Considerando o grande
número de analitos que potencialmente devem ser identificados em uma
análise de triagem toxicológica (fármacos e metabólitos, praguicidas,
produtos químicos de uso industrial e outros), que pode chegar a vários
milhares de substâncias, é improvável que laboratórios individuais criem
e mantenham bases de dados suficientemente amplas. Desta forma, a
disponibilidade de bases de dados aplicáveis interlaboratorialmente é
fundamental em análise toxicológica sistemática.
Apesar
da disponibilidade de métodos analíticos modernos de elevada
sensibilidade e especificidade, tais como a cromatografia líquida
associada à espectrometria de massas em tandem (CL-EM/EM)7,8 e
espectrometria de massas por tempo de vôo (CL-TDV)9, a maior parte dos
laboratórios de toxicologia analítica ainda utilizam métodos clássicos,
como a cromatografia em camada delgada (CCD), cromatografia gasosa (CG)
com detectores não espectrométricos, como os de ionização em chama (DIC)
e nitrogênio-fósforo (DNP), e a cromatografia líquida de alta
eficiência com detecção por absorção de radiação ultravioleta (CLAE-UV).
Considerando
a necessidade da existência de sistemas de ATS robustos associados a
amplas bases de dados de comportamento analítico, o comitê de análise
toxicológica sistemática da "International Association of Forensic
Toxicologists" (TIAFT) fomentou estudos de padronização de diversas
metodologias para utilização interlaboratorial em ATS, bem como a
geração de amplas bases de dados. Como resultado deste trabalho foram
publicadas bases de dados com métodos e dados analíticos utilizando CCD e
CG. Posteriormente, diversos autores propuseram metodologias de ATS
utilizando CLAE, especialmente com detectores de arranjo de diodos
(DAD).
Na
identificação toxicológica baseada em bases de dados, deve-se levar em
consideração que somente compostos cujos dados estejam inseridos na base
em utilização poderão ser identificados. Também, considerando o grau de
especificidade de cada método, bem como a existência de variabilidades
interlaboratoriais, representadas pelos desvios-padrões
interlaboratoriais de cada sistema analítico, é necessária a associação
de dados obtidos em diferentes sistemas para uma identificação efetiva.
Também deve se considerar que o número de sistemas necessários para
identificação inequívoca aumenta com o número de sustâncias presentes na
população tomada em consideração.
Apesar
da existência de sistemas altamente reprodutíveis do ponto de vista
interlaboratorial, o manuseio dos dados obtidos é problemático. Embora a
base teórica da identificação de compostos através da busca em bases de
dados esteja estabelecida1-4, sua implementação prática apresenta
dificuldades. Especialmente, a busca manual em diferentes listas de
substâncias-candidato, quando vários métodos são associados a uma mesma
amostra, não é produtiva.
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